Crônica de um dia de jogo


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É emocionante ver como um esporte pode movimentar uma cidade, um povo, uma torcida. Ver suas cores preferidas tremulando e o sorriso espontâneo em cada torcedor. Desde as crianças, meio sem entender, até os idosos. A alegria de quem está na fila à espera de entrar no estádio, ansioso pelos gritos de gol, pelos xingamentos ao adversário e pela alegria de um drible, de uma jogada ensaiada, de um chute do seu ídolo. É isso que ele quer: amor, paixão e sonho.

É tudo muito louco, incompreensível,  desde quando isso começa e como começa. No meu caso, mãe e irmãos coxas-branca. Morava ao lado do Couto Pereira.  Mas, meu pai, mineiro, ex-cruzeirense, agora torcedor rubro-negro, ficava deitado na cama, todos os domingos, ouvindo pelo radinho as narrações do campeonato paranaense e, naquela época, da série B. Eu ficava ali, admirando, deitava do ladinho dele e torcia junto. Cheiro de cigarro com café com leite. Ali, começou tudo isso.

Washington e Assis, quase chegaram lá. Depois, lembro de uma fase em que o time mandava jogos no Pinheirão. Quanto sacrifício! Aquele frio danado, vento cortante, me vestia discretamente para não chamar atenção, pois no estádio quase não tinha mulheres. Certo preconceito: mulher não entende de futebol. Eu ali, disfarçada, para acompanhar os gols do Manguinha, os chutões do Fião, as defesas do Flávio.

Depois teve o time campeão brasileiro em 2001, Alex Mineiro, Kleber, glória máxima, quanta alegria, quanta comemoração. Minha filha já nascida não tinha escolha, já ganhou camiseta do Athlético e ensinava a cantar o hino e pedir mais um título de presente para o Papai Noel. Depois, os gols do Coração Valente, a torcida pelo Kleberson, Fernandinho e Weverton na seleção.

Hoje, nessa nova fase, estádio grandioso, técnico perfeito, jogadores guerreiros. Tudo em perfeita sintonia, campeão sulamericano. Pela TV, observo atentamente o rosto dos torcedores, a emoção extravasada,  comoção geral, todos unidos por um sonho. Ah, é só um esporte! É só um bando de gente sem cultura, uma massa de manobra, o ópio do povo, como dizem os intelectuais de plantão.

Mas futebol é muito mais que isso. São lembranças de infância, são histórias de família, são identificações com nossos ídolos, são esperanças compartilhadas que só quem ama esse esporte pode sentir. É aquele momento que todo mundo deixa de lado as frustações, a política podre, as insatisfações  do dia a dia monótono para viver a insanidade mental que é essa paixão.


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