A Publicidade em 30 anos. Do tempo das ideias para o mundo dos robôs.
Desenho de Ulisses Teixeira feito para um cartão no meu aniversário |
Nestes últimos 30 anos, muitas foram as mudanças que a tecnologia trouxe para a Publicidade. Venho acompanhando tudo isso, desde os anos 90. Iniciei como Redatora em agências e tudo o que eu precisava era de uma máquina de escrever, papeis, canetas, errorex e ideias criativas.
Ideias que saiam do papel para se tornarem peças gráficas nas mãos dos Diretores de Arte, vídeos ou spots nas mãos das produtoras. Diretores de Arte que iniciavam seus trabalhos com esboços feitos à mão e depois finalizam muitas vezes as ilustrações em aerógrafos.
O caras tinham que ser bons mesmo. Não era tarefa pra qualquer um. Montagens com Letraset, depois o material ia para a confecção do fotolito antes da impressão. Aos poucos, tudo isso foi deixando de existir.
Os clientes usavam a imaginação, acreditavam nas propostas visuais e esperavam semanas até tudo ficar pronto. Não existia esse "é pra ontem!". Não tinha como. Era um trabalho artesanal. E pagavam muito bem por tudo isso. Valores altíssimos de veiculação em jornais, revistas e TVs.
Os fotógrafos realmente conheciam sobre iluminação e produção. Não tinha como conferir na tela se estava ficando bom e depois corrigir no Photoshop. Enviavam os cromos que depois precisavam ser digitalizados.
Quando recebi o meu primeiro computador para trabalhar, desconfiei. E agora, o que seria da criatividade? Aquela tela em duas cores certamente seria um empecilho, um entrave.
Sem saudosismo, a Publicidade hoje tornou-se um trabalho muito diferente do que era. Antes você tinha que conhecer bem as pessoas, hoje você tem que conhecer bem as tecnologias. Não pensar tantos nas pessoas que vão ler, mas principalmente nos robôs do Google se vão considerar relevante ou não o que você está escrevendo. Muitas regras, muitos padrões, pouco espaço para a criação e estilo. Tudo muito igual e burocrático.
O público-alvo deixou de existir para tornar-se hoje a persona. Os termos em inglês invadiram o nosso mundo, mudando até o nome das profissões: customer sucess, social midia, sales development, analista de inbound marketing etc.
Outra coisa, como é difícil marcar um conversa para mostrar seu trabalho em uma empresa. O pessoal do Marketing nunca tem tempo para te receber. Manda uma apresentação, eles pedem! Ninguém tem tempo pra nada. Antes, a gente agendava com o dono. Ele te recebia, contava sobre o seu negócio e as expectativas de retorno. Olho no olho!
E os veículos de comunicação? As festas de final de ano e Dia do Mídia? Sim, era o tempo do glamour na Publicidade. Festas e mais festas, com direito a bebidas, comidas, shows e prêmios.
Teve uma da Globo Paraná que foi inesquecível: no Curitibano com show da Rita Lee cantando Beatles. Histórico!
O profissional mais antigo, naquela época, era reverenciado pela experiência e seu estilo de vida. Como era bom sentar com essas pessoas num bar e deixar o papo fluir! Hoje, difícil o profissional antigo sobreviver ao mundo digital. Os salários são baixos, as pessoas são contratadas para fazer várias funções, prazos não existem e tudo já vem pronto: mock up, banco de imagens, vetores grátis.
É o tempo da Publicidade do teste, da métrica, dos seguidores e influencers. Bons tempos em que as produtoras investiam nos melhores diretores, nos melhores locutores, nas trilhas compostas. Saudades das brigas das agências que atendiam os cursinhos. Era uma campanha mais bacana que a outra.
Hoje é tudo caseiro. Grava no celular, edita no aplicativo, direto para a rede. Naquela época, a fita (Betacam) tinha que ser levada por alguém ao veículo de comunicação. Se a veiculação fosse na Globo Rio, a fita tinha que ser levada até lá e ai de você se não chegasse na hora. Perdia a veiculação e o cliente perdia muito dinheiro. Digamos que nesse sentido melhorou.
No mundo digital, não surgiriam Washigtons Olivetos nem Nizans Guanaes. Talvez nem contratados fossem, se não tivessem MBA, Pós, Doutorado ou Mestrado. E o maior dos problemas: tudo é descartável. O que você aprende hoje, talvez fique desatualizado amanhã. Não é mais tendência.
Enfim, 30 anos se passaram e tudo se transformou. Quantas revistas e jornais deixaram de existir. As pessoas não lêem, não escutam, mas em compensação como falam! Em palestras, lives, whats app.
Nunca a sociedade esteve tão perdida, tão doente, tão presa aos robôs, aos leads que não chegam, às contas que não fecham, às tendências que já passaram. Mas a gente continua fazendo o que gosta e sabe fazer, da melhor forma possível. Mesmo porque não podemos viver do passado. Muitas coisas mudam. Umas para melhor e outras não.
Mas acho que o futuro não foi bom com a Publicidade.
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